DIA NACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL – SINAIS DE INCLUSÃO: O QUE JÁ SE FAZ E O QUE PODEMOS MELHORAR

Inês Santos, Psicóloga

No passado dia 10 de maio, assinalou-se em Portugal o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual – uma data que nos convida a refletir sobre os direitos, os desafios e os avanços conquistados na inclusão destas pessoas na sociedade.

É também um momento oportuno para avaliar o que ainda precisa de ser feito, com empatia, responsabilidade e visão de futuro.

O que já foi conquistado?

Nos últimos anos, temos assistido a avanços significativos na inclusão de pessoas com deficiência intelectual, impulsionados por políticas públicas, iniciativas sociais e mudanças culturais. Entre os progressos, destacam-se:

  • Educação inclusiva: Cada vez mais escolas públicas e privadas adotam práticas pedagógicas diferenciadas e adaptadas, valorizando o potencial individual de cada aluno.

  • Empregabilidade: Existem empresas e instituições que apostam na inclusão laboral, com programas de integração que respeitam ritmos e capacidades, promovendo autonomia e dignidade.

  • Apoio à família: O papel das famílias é hoje mais reconhecido e apoiado por técnicos de intervenção precoce, terapeutas, psicólogos e redes de suporte comunitário.

  • Representatividade: A presença de pessoas com deficiência intelectual em campanhas, eventos culturais e desportivos ajuda a quebrar estereótipos e a criar referências positivas na sociedade.

  • Legislação e direitos: Documentos como a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência têm servido de base para mudanças estruturais na defesa da igualdade.

Estes são sinais concretos de que estamos a caminhar na direção certa. Mas o caminho da inclusão não é linear e está longe de estar concluído.

O que ainda podemos (e devemos) melhorar?

Apesar dos progressos, persistem barreiras – físicas, sociais, culturais e atitudinais – que continuam a limitar a participação plena das pessoas com deficiência intelectual. Entre os aspetos a melhorar, destacamos:

  • Recursos humanos especializados: Para que a inclusão seja real e eficaz, é fundamental haver mais profissionais disponíveis e qualificados. Isso inclui professores de educação especial, técnicos de reabilitação, psicólogos, terapeutas ocupacionais, e tutores que acompanhem adultos com fragilidades cognitivas nos vários domínios da sua vida – especialmente quando não há familiares disponíveis. A adaptação de ambientes, materiais, contextos e rotinas exige tempo, conhecimento e presença constante.

  • Formação contínua para profissionais: Muitos professores, técnicos e empregadores ainda não têm formação específica para lidar com a diversidade cognitiva, o que pode limitar a eficácia das boas práticas.

  • Maior sensibilização da sociedade: O preconceito e a desinformação continuam presentes no quotidiano. Campanhas regulares de sensibilização são essenciais para promover empatia e respeito.

  • Autodeterminação: As pessoas com deficiência intelectual devem ser envolvidas nas decisões que lhes dizem respeito – em contextos escolares, familiares, profissionais e comunitários.

  • Transição para a vida adulta: Faltam respostas estruturadas para apoiar esta fase crucial, sobretudo na construção de projetos de vida autónomos, participativos e dignos.

  • Monitorização ao longo da vida adulta: Durante a infância e adolescência, existem mais respostas sociais, escolares e clínicas para as pessoas com deficiência intelectual. No entanto, fora da idade escolar, muitos adultos deixam de ter acompanhamento continuado ficando desprotegidos em áreas fundamentais como a saúde, a habitação, a vida social ou a autodeterminação. Esta ausência de respostas perpetua desigualdades e pode comprometer o direito a uma vida digna, plena e segura ao longo de todo o ciclo de vida.

  • Acesso à cultura e ao lazer: A inclusão não se esgota na escola ou no trabalho. É preciso garantir o acesso pleno a atividades culturais, desportivas e recreativas, adaptadas e acolhedoras.

Como podemos fazer a diferença?

Na Terapia ao Quadrado, acreditamos que a inclusão é um processo coletivo e contínuo, onde cada pessoa, família, escola, empresa ou organização tem um papel ativo. A nossa prática diária assenta na escuta, na adaptação e no respeito pela individualidade de cada utente.

Neste sentido, deixamos um convite à ação:

  • Se és familiar ou cuidador, procura apoio, partilha desafios e celebra conquistas – não estás sozinho.

  • Se és técnico, investe na tua formação e mantém-te disponível para aprender com cada pessoa que acompanhas.

  • Se és cidadão, promove ambientes acessíveis e relações genuínas, livres de estigma ou paternalismo.

A inclusão não é um favor – é um direito. E é também uma oportunidade de crescermos como sociedade, aprendendo com a diferença.

 
 

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