ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA E MÉTODO PROMPT
Inês Santos, Psicóloga
A Análise do Comportamento Aplicada é conhecida pela sigla em inglês ABA (Applied Behavior Analysis).
Esta é uma ciência da aprendizagem e do comportamento que aplica princípios do comportamento operante (derivados do behaviorismo radical de Skinner) para melhorar comportamentos socialmente relevantes.
Princípios Básicos
O comportamento é aprendido e pode ser modificado por consequências.
O reforço aumenta a probabilidade de um comportamento se repetir.
A punição diminui a probabilidade de um comportamento (quando usada com cuidado).
A análise funcional identifica a função do comportamento, isto é, a razão pela qual ele ocorre.
As intervenções são individualizadas e baseadas em dados observáveis.
Os progressos são medidos constantemente para ajustar a intervenção.
Objetivos
Ensinar novas habilidades (linguagem, socialização, autonomia)
Reduzir comportamentos desadaptativos (agressividade, estereotipias)
Promover independência funcional
É muito usada em intervenções com crianças no espectro do autismo, mas também aplicada em educação, geriatria, reabilitação, saúde mental e ambientes organizacionais.
Estrutura típica de uma intervenção
Avaliação inicial
Definição de comportamentos-alvo (que se querem promover ou extinguir)
Divisão em pequenos passos (task analysis)
Ensino com apoio (ex: prompts)
Reforço positivo
Generalização e manutenção
Recolha e análise de dados contínua
Análise de Comportamento Aplicada e o Método Prompt
O método prompt é uma das estratégias mais utilizadas para ensinar comportamentos novos ou complexos, especialmente quando a pessoa ainda não é capaz de realizar a ação sozinha.
Como o método prompt se insere na Análise de Comportamento Aplicada:
ABA | Método Prompt |
---|---|
Ensina habilidades por reforço | Prompt ajuda a evocar a resposta correta inicialmente |
Divide tarefas em pequenos passos | Prompts são aplicados em cada passo conforme necessário |
Avalia nível de assistência necessária | Usa diferentes tipos de prompt (verbal, gestual etc.) |
Visa independência funcional | Aplica o fading (remoção gradual do prompt) |
Usa reforços após comportamento desejado | Prompt antecipa o comportamento, reforço o consolida |
Importância do fading (remoção do prompt)
Um dos maiores erros em aplicações do método é manter os prompts por demasiado tempo, o que pode criar dependência. Por isso, é essencial:
Planear desde o início como o prompt será reduzido
Promover independência e não apenas desempenho assistido
Eficácia da ABA e do Método prompt
Pontos positivos (segundo evidência científica):
Alta eficácia comprovada para ensino de habilidades funcionais (comunicação, autocuidado, habilidades sociais), principalmente em crianças com autismo.
Resultados especialmente sólidos quando iniciada precocemente (antes dos 5 anos) e com intervenção intensiva.
O método prompt, quando bem aplicado, acelera a aprendizagem, reduz erros e torna a experiência menos frustrante.
Basear a intervenção nos dados derivados de uma monitorização constante de forma a ir fazendo os ajustes necessários, aumentando, assim, a personalização.
Limitações e críticas:
A eficácia varia entre indivíduos, e não há garantias de generalização ou manutenção de todos os ganhos sem suporte contínuo.
Alguns estudos mostram que resultados positivos diminuem ao longo do tempo se o reforço for retirado abruptamente ou se a aprendizagem não for generalizada para diferentes contextos.
Este método pode focar excessivamente no comportamento externo, negligenciando o sentido interno e emocional da ação (motivações, experiências subjetivas).
A eficácia do método prompt depende do planeamento do fading. Quando mal feito, pode levar à dependência da ajuda e não à autonomia.
Questões éticas e respeito às idiossincrasias de cada um. Essa é uma das áreas mais debatidas atualmente — e com razão.
A Análise de Comportamento Aplicada moderna evoluiu:
Muitos profissionais adotam abordagens mais humanizadas e centradas na pessoa.
O foco mudou de corrigir comportamentos para promover qualidade de vida, autonomia e bem-estar.
Técnicas como prompt são usadas como suporte à intervenção e não tentativa de controlar.
Mas há críticas éticas importantes:
Supressão da individualidade:
ABA tradicional, às vezes, procurava corrigir comportamentos, mesmo que fossem inofensivos (ex: estereotipias como o flapping)
Tal pode levar à supressão da identidade do indivíduo e ao aumento de sofrimento psicológico.
Consentimento e autodeterminação:
Crianças pequenas ou pessoas não verbais não podem consentir plenamente.
Algumas práticas podem ser vistas como condicionamento forçado, se não houver sensibilidade.
Uso excessivo de reforços artificiais:
Pode reduzir a motivação intrínseca e tornar a pessoa dependente de recompensas externas.
Desconsideração do contexto emocional:
ABA pode, por vezes, ignorar sinais de sobrecarga sensorial, ansiedade ou medo, focando-se apenas em eliminar um “comportamento-problema”.
Sobre o método prompt, em particular:
Ético quando:
É usado como suporte temporário, com objetivo claro de promover autonomia.
É aplicado com respeito ao ritmo da pessoa e com fading bem planeado.
Respeita o direito da pessoa de recusar, demonstrar desconforto ou escolher outra forma de agir.
Problemático quando:
É usado de forma intrusiva, sem consentimento ou atenção ao bem-estar emocional.
Mantém a pessoa em dependência constante, sem intenção de promover independência.
Força respostas “adequadas” socialmente em detrimento da expressão autêntica do indivíduo.
Resumo:
Aspeto | Pontos fortes | Pontos críticos |
---|---|---|
Eficácia | Alta para ensino de habilidades funcionais | Varia de indivíduo para indivíduo; pode perder efeito se mal generalizado |
Duração dos resultados | Pode ser duradoura com generalização e envolvimento familiar | Pode ser superficial se dependente de reforços externos |
Ética | Evolução para práticas mais centradas no indivíduo | Histórico controverso; ainda exige vigilância quanto à humanização |
Método prompt | Eficaz e protetor contra erros e frustrações | Pode ser intrusivo se não houver plano de fading e sensibilidade |
Conclusão
A prática clínica exige mais do que conhecimento técnico, exige sensibilidade, adaptabilidade e pensamento crítico. Na Terapia ao Quadrado, acreditamos que nenhum método deve ser seguido de forma rígida ou dogmática. Somos profissionais ao serviço de pessoas reais, com histórias únicas, necessidades diversas e formas próprias de estar no mundo.
Ser um técnico integrativo significa justamente isso: avaliar cada caso de forma ética, crítica e humanizada, escolhendo as técnicas e métodos que funcionem melhor para cada pessoa, e não simplesmente os que se alinham com uma escola teórica específica.
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA), assim como o método prompt, podem ser extremamente eficazes, mas devem ser usados com consciência, flexibilidade e respeito. Quando bem aplicada, pode ser uma mais-valia, quando aplicada de forma rígida, pode tornar-se limitadora e até prejudicial.
Defendemos uma prática centrada na autonomia, no diálogo, na escuta ativa e na co-construção de caminhos terapêuticos. Porque mais importante do que seguir um manual é responder de forma autêntica e cuidadosa a quem nos procura.
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