TIPOS DE VINCULAÇÃO E O SEU IMPACTO NA VIDA ADULTA

Ana Sofia Alcobia, Psicóloga

A forma como nos relacionamos com os outros é influenciada pelas primeiras relações que estabelecemos, em particular com os nossos cuidadores.

Este padrão relacional, que se desenvolve na infância, é conhecido como estilo de vinculação.

Podemos não nos lembrar conscientemente desses primeiros vínculos, mas eles moldam não só as relações amorosas, como também a forma como lidamos com o stress, a autoestima e até com a saúde mental. É a partir dessas experiências que se desenvolvem diferentes formas de nos relacionarmos — e vale a pena conhecê-las e compreendê-las.

Vinculação Segura

É aquela que se forma quando, em criança, tivemos alguém presente, disponível, sensível às nossas necessidades. Aprendemos que o mundo é relativamente seguro e que pedir ajuda não nos torna fracos.

Na vida adulta, as pessoas com vinculação segura tendem a:

  • Sentir-se confortáveis com a intimidade;

  • Menor risco de depressão;

  • Maior satisfação nas relações;

  • Melhor autorregulação emocional.

Vinculação Ansiosa

Aparece quando o cuidado foi inconsistente. Às vezes estavam lá, outras vezes não. A criança fica em modo de alerta constante, sempre a tentar garantir que não vai ser esquecida.

Em adulto, isto pode manifestar-se como:

  • Medo intenso de ser rejeitado;

  • Necessidade constante de validação;

  • Dificuldade em confiar;

  • Níveis mais elevados de ansiedade e depressão;

  • Baixa autoestima.

Vinculação Evitante

Este estilo tende a desenvolver-se quando, na infância, a criança não encontrou uma resposta positiva às suas emoções. Sempre que expressava as suas necessidades, podia ser ignorada, criticada ou até ridicularizada.

Com o tempo, aprende que é mais seguro não sentir ou, pelo menos, não mostrar o que sente. A independência torna-se uma forma de proteção.

No presente, quem tem este estilo pode:

  • Evitar a intimidade;

  • Afastar-se quando a situação fica emocionalmente intensa;

  • Valorizar muito a independência, mas sentir solidão.

De acordo com a neurociência, a atividade cerebral destas pessoas é menos reativa, como se tivessem “aprendido” a bloquear ou ignorar as emoções negativas que surgem em situações de conflito, rejeição ou stress nas relações interpessoais, para não sentirem tanto sofrimento.

Vinculação Desorganizada

É um estilo geralmente associado a experiências adversas. A figura de vinculação era também, de alguma forma, uma fonte de medo. Há um desejo de ligação, mas também um medo profundo.

Na vida adulta, pode traduzir-se em:

  • Relações instáveis e intensas;

  • Comportamentos contraditórios (quero, mas fujo);

  • Maior risco de dissociação;

  • Instabilidade Emocional;

  • Dificuldade em confiar até em quem ama.

E agora, o que fazemos com estas informações?

O mais importante é perceber que estes estilos não são definitivos. São aprendizagens antigas, feitas para nos proteger, mesmo que hoje já não nos sirvam. Com autoconhecimento, com relações seguras, com espaço de escuta - e, sim, muitas vezes com terapia - é possível aprender novas formas de estar em relação.

Mais seguras. Mais presentes. Mais livres.

Referências bibliográficas:

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