NEURODIVERSIDADE NO VERÃO: COMO ADAPTAR?
Catarina da Isabel, Musicoterapeuta e Terapeuta da Fala
O verão chega com dias mais longos, calor, rotinas diferentes e uma quebra no ritmo habitual. Para muitas crianças, isso pode ser sinónimo de descanso e liberdade.
Mas para crianças neurodivergentes, essas mudanças podem trazer desafios que afetam o bem-estar e o equilíbrio emocional.
O que é neurodiversidade?
A neurodiversidade é a forma natural como o cérebro pode funcionar de maneira diferente. Engloba condições como o autismo, PHDA, dislexia, entre outras. Cada cérebro é único — e isso é algo que merece ser normalizado e compreendido.
No verão - como em todas as outras estações - adaptar-se à neurodiversidade significa respeitar os diferentes modos de sentir, pensar, comunicar e estar no mundo.
Mas por que é que o verão pode ser desafiante?
Rutura na rotina: O fim das aulas e das terapias regulares pode causar ansiedade.
Maior imprevisibilidade: Viagens, passeios e visitas são menos previsíveis.
Alterações sensoriais: O calor, o barulho, os cheiros e a luz intensa podem ser desconfortáveis.
Expectativas sociais: A pressão para “aproveitar ao máximo” pode ser cansativa para quem precisa de mais tempo e espaço.
Como adaptar?
Manter alguma previsibilidade
Use quadros visuais de rotina mesmo nas férias
Explique com antecedência o que vai acontecer no dia: “Hoje vamos à praia. Primeiro tomamos o pequeno-almoço, depois vestimos o fato de banho…”
Use imagens, calendários e contagens decrescentes
Respeitar os limites sensoriais
Leve fones abafadores de ruído para sítios movimentados.
Tenha à mão óculos de sol, chapéus ou roupas leves para conforto sensorial.
Permita pausas em ambientes calmos.
Criar momentos de regulação
Inclua atividades que ajudam a criança a regular-se: baloiçar, brincar com água, ouvir música, fazer massagens…
Reserve tempo para estar “sem fazer nada” — o descanso é fundamental.
Dar opções e escolhas
Ofereça alternativas: “Queres brincar lá fora ou ficar um pouco em casa a desenhar?”
Permitir escolhas aumenta o sentimento de controlo e segurança.
Incluir os interesses da criança
Incorporar os interesses especiais nas atividades: dinossauros na areia? Conchas e números? Tudo conta como aprendizagem e diversão.
Adaptar sempre às características individuais da criança.
E se houver birras, crises ou recuos?
É normal. O verão mexe com todos, especialmente com quem sente o mundo de forma mais intensa. Em vez de ver como “mau comportamento”, tente ver como uma mensagem do corpo e da mente a pedir ajuda.
Respire fundo. Acolha. Dê tempo.
Algumas ideias de atividades adaptadas:
Piqueniques em locais calmos
Caminhadas curtas na natureza
Brincadeiras sensoriais com água, areia, farinha ou gelatina
Sessões de música e movimento ou audição musical
Atividades criativas com tempo flexível
Muito importante:
Entre férias da família e férias dos terapeutas, é essencial manter as terapias com regularidade. Todos precisamos de férias e descanso mas a totalidade de férias escolares de verão não deve coincidir com férias das terapias. É muito importante manter, dentro dos possíveis, a regularidade dos acompanhamentos terapêuticos.
Conclusão
Adaptar o verão à neurodiversidade não significa limitar. Significa respeitar, ajustar e permitir que cada criança aproveite a estação ao seu ritmo. Com empatia e criatividade, é possível criar um verão mais leve, seguro e feliz para todos.