SENTIR PARA APRENDER: AFINAL O QUE É A INTEGRAÇÃO SENSORIAL?
Sofia Silva, Terapeuta Ocupacional
A integração sensorial é um processo inconsciente do cérebro (ocorre sem que pensamos nele, como a respiração) e é responsável pela organização das sensações detetadas pelos nossos sentidos, dando significado ao que experienciamos através da seleção da informação que é relevante.
Desde bebé, o cérebro da criança está constantemente a receber informações sensoriais: o que vê, o que ouve, cheira, toca ou sente com o corpo. Quando o cérebro organiza bem estes estímulos a criança sente-se segura, confortável e pronta para explorar, compreender e interagir com o mundo, permitindo responder apropriadamente às sensações que lhe chegam.
A aprendizagem está diretamente ligada ao funcionamento do sistema nervoso. Quanto mais integrados estiverem os sistemas sensoriais, mais eficiente será a aprendizagem.
Sabias que para além dos cinco sentidos mais vulgarmente conhecidos existem mais três?
São no total oito sistemas sensoriais reconhecidos atualmente que desempenham um papel único no desenvolvimento cognitivo e motor da criança.
Aprendemos que conhecemos o mundo através dos nossos cinco sentidos, mas na verdade necessitamos de mais três “secretos” para que o nosso corpo e o mundo façam sentido e consigamos atingir o máximo de potencial de desenvolvimento e bem-estar. Assim, para além do paladar, olfato, visão, audição e tato o sistema nervoso necessita de interpretar o movimento e a força da gravidade, a posição do corpo e as sensações internas do nosso corpo. Falamos respetivamente dos sistemas vestibular, propriocetivo e interocetivo.
O sistema vestibular é estimulado pelos movimentos da cabeça, pescoço, olhos e do corpo no meio. É responsável por manter o tónus muscular, a coordenação dos dois lados do corpo e sustentar a cabeça ereta contra a gravidade. Permite que a criança saiba quanto se pode balançar sem cair ou até onde pode subir sem se colocar em perigo.
O sentido da proprioceção é a consciência da posição das várias partes do corpo. O cérebro constrói um mapa sobre a orientação do corpo e do espaço que este ocupa. Esta competência permite-nos andar entre os objetos e pessoas sem esbarrar. Adicionalmente, dá-nos informação sobre a força que exercemos sobre os objetos.
Por último, a interoceção permite-nos sentir e interpretar sensações internas do corpo e está relacionada com a capacidade de regular as emoções e comportamentos. Dá-nos informações internas como a fome, sede, cansaço, temperatura corporal e vontade de urinar/defecar.
E quando não existe uma integração correta dos sentidos?
Quando o cérebro apresenta dificuldade em processar a informação sensorial, surge então uma disfunção de integração sensorial.
Apesar de ninguém conseguir integrar sensações de uma forma perfeita, as falhas neste processo podem impactar negativamente muitas áreas da vida da criança, interferindo com a participação da mesma em casa, na escola ou na comunidade.
Por exemplo, quando a criança descasca uma laranja para comer ela precisa de integrar múltiplas informações sensoriais em simultâneo: visuais (ver a cor e a forma), táteis (sentir as texturas e temperatura da casca e dos gomos), olfato (aroma do citrino), paladar (saborear o doce/azedo), auditivo (o som a tirar casca, mastigar), propriocetivas (ajustar a força para manter a laranja segura na mão sem deixar cair ou apertar em demasia) e vestibular (manter o equilíbrio do tronco e membros).
Quando estes sistemas trabalham de forma integrada, a criança realiza a atividade com sucesso. Porém, dificuldades no processamento sensorial podem despoletar problemas de atenção, motricidade fina, controlo postural, planeamento motor ou regulação comportamental, influenciando o desempenho eficaz das atividades diárias.
Os sintomas associados às dificuldades de integração sensorial variam consideravelmente de criança para criança, o que torna complexa a sua identificação. Por este motivo, os terapeutas que trabalham com a Integração Sensorial necessitam de formação especializada para avaliar qual é o padrão específico de perturbação daquela criança, com base na sua observação e análise dos sintomas apresentados.
Será que o seu filho apresenta disfunções sensoriais?
Seguem alguns sinais de alerta:
Hipersensibilidade ao toque, movimento, visão ou sons (evitamento ou desconforto ao tocar em determinadas texturas ou alimentos; medo de atividades de movimento, por exemplo, no parque infantil; incómodo com sons comuns ou luz);
Pouca reação à estimulação sensorial (responde pouco aos estímulos sensoriais; pode procurar experiências intensas, como girar continuamente num baloiço; grande tolerância à dor);
Níveis de atividade acima ou abaixo do normal (estar sempre agitada ou, por outro, lenta, cansando-se facilmente);
Hiperatividade e défice de atenção (sempre em movimento; dificuldade em concentrar-se);
Problemas de coordenação motora (dificuldade em atividades globais motoras e finas e problemas de equilíbrio);
Atraso na linguagem, na fala, na habilidade motora ou na aquisição académica (problemas em algumas áreas escolares apesar de ter capacidades);
Pobre organização do comportamento (dificuldade em ajustar-se a situações novas, demonstrando frustração, agressão ou medo de fracassarem);
Autoconceito pobre (a criança tem consciência que determinadas tarefas são difíceis para ela, evitando-as, dando a entender aos pais que são preguiçosas ou sem motivação. A dificuldade em compreender estes problemas levam os pais a “condenarem” os seus filhos, provocando uma tensão familiar, influenciando a sua auto estima.
Quando o cérebro tem dificuldade em organizar estas informações a criança pode sentir-se confusa, frustrada ou desconfortável. Se suspeita que o seu filho se enquadra nesta descrição pode solicitar avaliação de um Terapeuta Ocupacional especializado na área de Integração Sensorial.