O PODER DO AFETO E DA COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL NO DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DA CRIANÇA

Inês Santos, Psicóloga

Desde o nascimento, os bebés estão imersos num mundo de relações e significados que moldam o seu desenvolvimento emocional.

Antes mesmo de aprenderem a falar, comunicam através de expressões faciais, gestos, choro e contacto visual. É nesse contexto que o afeto e a comunicação não verbal desempenham um papel fundamental na construção da segurança emocional, da autoestima e da capacidade de se relacionar com o mundo.

 O Afeto como Alicerce do Desenvolvimento

O afeto é a base sobre a qual se constroem as primeiras relações significativas da criança. Segundo a Teoria da Vinculação, proposta por John Bowlby, a qualidade da relação entre o bebé e o cuidador principal influencia profundamente a forma como a criança percebe o mundo e a si mesma.

Um vínculo seguro, caracterizado por disponibilidade emocional e responsividade, promove a confiança e a exploração saudável do ambiente. Estudos indicam que a afetividade acompanha cada etapa do desenvolvimento infantil, sendo especialmente crucial nos primeiros anos de vida. A criança identifica o tom ameaçador ou acolhedor do ambiente através de perceções afetivas, o que influencia diretamente o seu bem-estar emocional.

A Comunicação Não Verbal: A Primeira Linguagem

Antes da aquisição da linguagem verbal, os bebés utilizam apenas a comunicação não verbal para expressar necessidades, emoções e estabelecer vínculos. O contacto visual, o sorriso, o choro e os gestos são formas de interação que permitem ao cuidador compreender e responder adequadamente às necessidades da criança.

Ao longo da infância, a comunicação não verbal continua a ser uma via essencial para expressar emoções e necessidades, especialmente em momentos de stress ou quando o vocabulário ainda não é suficiente para verbalizar sentimentos complexos.

Como o Afeto e a Comunicação Não Verbal Influenciam Cada Fase do Desenvolvimento

 0 aos 12 meses — A base da vinculação segura

  • O bebé busca o olhar, o toque e a voz dos cuidadores como fontes de segurança.

  • O sorriso do cuidador, o embalar, o tom suave da voz, transmitem conforto e segurança.

  • As respostas rápidas e carinhosas ao choro ajudam a regular o sistema nervoso imaturo do bebé.

1 aos 3 anos — Autonomia com base na segurança emocional

  • A criança começa a explorar o mundo com mais independência, mas precisa de voltar frequentemente à base segura.

  • Expressões faciais e gestos dos adultos ajudam-na a interpretar situações (“Está tudo bem ou é perigoso?”).

  • Os abraços e a validação não verbal (como um olhar de apoio) são essenciais para a autorregulação emocional.

 4 aos 6 anos — Emoções mais complexas e empatia emergente

  • A criança começa a nomear emoções, mas ainda depende muito da expressão não verbal para interpretar as dos outros.

  • O tom de voz e as expressões dos adultos continuam a ser referências centrais.

  • Demonstrações de afeto ajudam-na a sentir-se valorizada, mesmo perante frustrações e correções.

7 aos 12 anos — Consolidação da identidade emocional

  • Já entende melhor os sentimentos, mas ainda precisa de validação não verbal (abraços, gestos de compreensão, escuta ativa).

  • A comunicação afetiva modela o tipo de relações que irá formar: a forma como é ouvida e acolhida é internalizada como autoestima.

  • A linguagem corporal do cuidador influencia a forma como a criança se vê e se sente no mundo.

A Importância da Responsividade ao Longo do Tempo

A forma como os cuidadores respondem às expressões não verbais da criança — desde um olhar ansioso até um abraço procurado — continua a ser determinante em todas as fases do desenvolvimento. Não é apenas nos primeiros meses que o afeto conta: ele é essencial durante toda a infância e adolescência.

A comunicação não verbal do cuidador (olhar, tom de voz, postura corporal) transmite mensagens profundas sobre amor, aceitação e segurança. Com o tempo, estas mensagens são interiorizadas pela criança como o “valor que tenho” e “o que posso esperar dos outros”.

Conclusão

O afeto e a comunicação não verbal não são apenas “mimos” ou gestos espontâneos — são ferramentas poderosas no desenvolvimento emocional da criança. Quando usadas com consciência e consistência ao longo das fases da infância, promovem vínculos seguros, autoestima saudável e maior capacidade de enfrentar desafios emocionais.

Investir na qualidade das interações humanas desde o início é investir na saúde emocional de uma geração inteira.

Referências Bibliográficas:

Bowlby, J. (1984). Apego e perda: Vol. 1. O apego à mãe. Martins Fontes.

Mello, S. L. (2010). A afetividade no desenvolvimento dos bebês. In S. L. Mello (Org.), Bebês: Desenvolvimento e cuidados (pp. 29–44). Cortez Editora.

Trevarthen, C. (2001). Intrinsic motives for companionship in understanding: Their origin, development and significance for infant mental health. Infant Mental Health Journal, 22(1–2), 95–131. https://doi.org/10.1002/1097-0355(200101/04)22:1<95::AID-IMHJ8>3.0.CO;2-6

Grudado em Você. (2021, junho 14). Você sabia que a comunicação não verbal com o bebê é muito importante? Grudado em Você. https://www.grudadoemvoce.com.br/blog/comunicacao-nao-verbal

Universidade Estadual Paulista – UNESP. (2022). A afetividade e a educação infantil. https://ebooks.marilia.unesp.br/index.php/lab_editorial/catalog/book/196

 
 

@terapiaaoquadrado

Anterior
Anterior

O PODER DO SONO NO DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS

Próximo
Próximo

TECNOLOGIAS E CRIANÇAS: COMO EQUILIBRAR O USO DE ECRÃS NA INFÂNCIA