IMPACTO DOS ECRÃS NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

Adriana Cruz, Terapeuta da Fala

O impacto dos ecrãs no desenvolvimento da linguagem em crianças é um tema amplamente estudado, revelando riscos e benefícios na sua utilização.

Embora a tecnologia possa permitir o acesso a recursos educativos, o uso excessivo de ecrãs (televisão, smartphones, tablets, computadores, consolas de videojogos, entre outros) prejudica as interações e o desenvolvimento de pré-competências fundamentais para a aquisição da linguagem e do desenvolvimento global.

O desenvolvimento da linguagem depende, entre outros, da interação social, do contacto visual, da imitação e da partilha emocional, aspetos que são reduzidos quando o tempo de ecrã é elevado.

Assim, o importante não é eliminar totalmente o uso da tecnologia, mas garantir um uso equilibrado, consciente e adequado à idade da criança.

Riscos do uso excessivo de ecrãs

1. Redução da interação social

Quando a criança passa muito tempo em frente ao ecrã, tem menos oportunidades de conversar, brincar e interagir com adultos e outras crianças, pode prejudicar o desenvolvimento da linguagem da criança.

2. Impacto negativo na aquisição de vocabulário

A aquisição de vocabulário depende, sobretudo, de experiências diretas e da comunicação com os outros. A exposição passiva a conteúdos digitais reduz essa aprendizagem natural.

3. Dificuldades na imitação

Os gestos, expressões faciais e sons são elementos fundamentais para a comunicação. A exposição aos ecrãs, não incentiva a imitação de gestos e expressões, importantes para a linguagem não-verbal.

4. Dificuldade na compreensão verbal

O uso prolongado de ecrãs diminui a capacidade de atenção e concentração, o que compromete a compreensão verbal da criança.

5. Comprometimento da memória e da atenção

A exposição prolongada a ecrãs reduz o tempo de atenção, afetando a memória de trabalho, que é fundamental para o processamento da linguagem.

6. Dificuldades na produção dos sons da fala

A produção dos sons da fala ocorre eficazmente em interações diretas. O ecrã, especialmente com conteúdo passivo, não oferece o mesmo feedback auditivo e visual necessário para um desenvolvimento adequado.

Benefícios

1.Acesso a ferramentas educativas

Existem aplicações interativas, desenvolvidos por educadores e terapeutas, que incentivam a estimulação da linguagem a atenção e a memória de forma positiva, desde que usados com supervisão e por tempo limitado.

2. Comunicação Aumentativa

Crianças com dificuldades de linguagem e/ou Necessidades Complexas de Comunicação podem beneficiar de softwares e produtos de apoio que promovem uma comunicação mais funcional e autónoma.

Recomendações

Até aos 3 anos: Evitar (exceto videochamadas) < 30 min TV/dia não é recomendado o uso de ecrãs

Entre os 4-6 anos: < 30 min/dia em conjunto com um adulto com conteúdos de qualidade e educativos

Entre os 7-11anos: < 1 hora/dia (estabelecer limites de tempo)

Entre os 12- 15 anos: < 2 horas/dia (estabelecer limites de tempo)

Entre os 16- 18 anos: < 2-3 horas/dia (estabelecer limites de tempo)

Referências:

1. Sociedade Portuguesa de Neuropediatria. (2023). Efeitos dos ecrãs no desenvolvimento neurológico e cognitivo infantil. Sociedade Portuguesa de Neuropediatria.

2. Sociedade Portuguesa de Pediatria. (2023). Orientações sobre o uso de ecrãs na infância. Sociedade Portuguesa de Pediatria.

3. Sociedade Portuguesa de Terapia da Fala. (2024). Comunicação Aumentativa. Sociedade Portuguesa de Terapia da Fala.

 
 

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