CORPO E MENTE: COMO SE EXPRESSAM AS EMOÇÕES?
Inês Santos, Psicóloga
Inspirado em Mais Amor, Menos Doença, de António Coimbra de Matos
Vivemos num tempo em que cuidar da saúde mental já não é tabu — e ainda bem. Mas há uma verdade fundamental que muitas vezes esquecemos: corpo e mente não estão separados.
O psiquiatra português António Coimbra de Matos, no seu livro Mais Amor, Menos Doença, relembra-nos algo essencial: o sofrimento emocional manifesta-se frequentemente através do corpo, assim como o corpo influencia a forma como sentimos, pensamos e nos relacionamos com o mundo.
As emoções não “vivem” só na mente
Quando sentimos ansiedade, não sentimos apenas “na cabeça”. O coração acelera, o estômago aperta, o sono desaparece. Quando vivemos uma perda, o peito dói. Quando guardamos raiva, surgem tensões, dores de costas, problemas digestivos.
Estas manifestações não são “imaginação” nem exagero. São formas do corpo transmitir aquilo que não conseguimos pôr em palavras.
Segundo Coimbra de Matos, as doenças físicas e emocionais não podem ser dissociadas das relações humanas. O sofrimento emerge, muitas vezes, da ausência de vínculos afetivos seguros — e isso diz muito sobre o mundo em que vivemos.
Insights fundamentais e sempre atuais de Mais Amor, Menos Doença
A origem do sofrimento está, muitas vezes, na carência afetiva
Numa sociedade cada vez mais rápida, digital e individualista, a qualidade das relações humanas tem vindo a degradar-se. Falamos muito, mas ouvimos pouco. Partilhamos imagens, mas escondemos dores. Coimbra de Matos alerta: sem afeto verdadeiro, as pessoas adoecem — emocional e fisicamente.
O amor é o melhor “remédio”
A ciência importa. A técnica também. Mas Coimbra de Matos reforça que o que cura verdadeiramente é o encontro humano. A presença empática de alguém que escuta, compreende e permanece ao nosso lado pode ser tão transformadora quanto qualquer intervenção clínica.
A doença pode ser uma forma de expressão emocional
Muitas doenças psicossomáticas, que hoje são tão comuns — insónias, problemas gastrointestinais, fadiga crónica, dores sem causa médica aparente — podem ser expressões de sofrimento emocional não elaborado. Numa sociedade que valoriza o desempenho constante, a produtividade e o controlo, sentir tornou-se quase um ato de resistência. Mas quando as emoções não são sentidas, reconhecidas e processadas, o corpo assume o papel de mensageiro.
A importância de construir relações seguras desde a infância
O autor reforça que o desenvolvimento emocional saudável começa com relações cuidadoras estáveis e afetuosas. Na infância, é o olhar, o toque, a voz e a disponibilidade emocional dos cuidadores que ensinam a criança a sentir-se segura no mundo e a regular as suas emoções.
Num tempo em que os ritmos familiares são muitas vezes sobrecarregados, e em que o tempo de qualidade escasseia, este alerta é cada vez mais urgente.
O corpo como espelho da alma
Acreditamos num olhar integrativo sobre a saúde: corpo, mente, relações, contexto social e emocional.
É por isso que trabalhamos em equipa multidisciplinar — para compreender a pessoa como um todo.
Partindo destas ideias, reforçamos a importância de:
✔️ Nomear emoções e dar-lhes espaço
✔️ Criar relações seguras, na vida pessoal e no contexto terapêutico
✔️ Escutar o corpo sem julgamento — ele tem mensagens importantes a transmitir
✔️ Trabalhar o afeto como ferramenta de prevenção e de cura
Se sentes que o teu corpo está a falar por ti...
Talvez esteja na hora de o escutar e a ajuda de um psicólogo pode ser fundamental. Estamos aqui para caminhar contigo, com mente, corpo e coração incluídos.