PERTURBAÇÕES DA PERSONALIDADE

Mariana Tomé, Psicóloga

Cerca de 10% da população em geral tem um diagnóstico de Perturbação da Personalidade.

A PERSONALIDADE ADVÉM DA COMBINAÇÃO DE FATORES BIOLÓGICOS, SOCIAIS, CULTURAIS E PSICOLÓGICOS.

Este conjunto de características fazem parte do self que diferencia cada pessoa e refletem-se na forma como esta se percepciona a si, aos outros e como se envolve com o meio. Não há uma definição única para a personalidade, mas pode afirmar-se que é um padrão relativamente estável e permanente de traços e características que dão consistência e individualidade ao comportamento. Isto é, os traços contribuem tanto para a individualidade do comportamento como para a consistência deste ao longo do tempo.

As características da personalidade constituem uma Perturbação da Personalidade quando são inflexíveis e inadaptadas e causam sofrimento subjetivo e um comprometimento funcional significativo. Assim, uma Perturbação da Personalidade pode ser entendida como “um padrão estável de experiência interna e comportamento que se afasta marcadamente do esperado para o indivíduo numa dada cultura, é invasiva e inflexível, tem início na adolescência ou no início da idade adulta, é estável ao longo do tempo e origina mal-estar ou incapacidade” (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 2013, p.771).

Existem dez diagnósticos de Perturbações da Personalidade diferentes, que pela partilha e semelhança de algumas características podem agrupar-se em três grupos:

Cluster A – Os Excêntricos e Estranhos

  • Perturbação Paranóide da Personalidade – os indivíduos estão sempre desconfiados e interpretam os motivos dos outros como maldosos.

  • Perturbação Esquizóide da Personalidade – predominância de um padrão de alheamento da vida social e restrição da expressividade emocional.

  • Perturbação Esquizotípica da Personalidade – presença de distorções cognitivas ou perceptivas, comportamento excêntrico e grande instabilidade nos relacionamentos interpessoais.

As Perturbações da Personalidade deste grupo começam a notar-se logo na infância e adolescência com comportamentos de solidão, mau relacionamento com os colegas e mau aproveitamento escolar. Crianças com Perturbação Paranoide e Esquizotípica da Personalidade podem parecer bizarras ou excêntricas e apresentar pensamentos e linguagem peculiar.

Cluster B – Os Dramáticos, Emotivos e Inconstantes

  • Perturbação Antissocial da Personalidade – padrão de desrespeito e violação pelos direitos dos outros.

  • Perturbação Borderline da Personalidade – os indivíduos apresentam grande instabilidade nas relações interpessoais, na sua autoimagem e nos afetos demonstrados, com impulsividade marcada.

  • Perturbação Histriónica da Personalidade – emocionalidade exagerada e procura constante de atenção por parte dos outros.

  • Perturbação Narcísica da Personalidade – indivíduos sem empatia, com sentido marcado de grandeza, superioridade e necessidade de admiração.

As pessoas com Perturbação Narcísica da Personalidade têm especiais dificuldades de adaptação no início das limitações físicas e profissionais inerentes ao processo de envelhecimento. A Perturbação Borderline da Personalidade apresenta um padrão de

instabilidade crónica no início da idade adulta, com episódios graves de descontrolo afetivo e dos impulsos. Por outro lado, a Perturbação Antissocial da Personalidade tem uma evolução crónica, mas pode ser menos evidente com o avançar da idade; contudo, o seu diagnóstico só pode ser dado a indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos.

Cluster C – Os Ansiosos e Medrosos

  • Perturbação Evitante da Personalidade– indivíduos que se inibem socialmente e estão sempre hipersensíveis à avaliação negativa dos outros.

  • Perturbação Dependente da Personalidade– são incapazes de tomar decisões, preocupam-se excessivamente com a possibilidade de serem abandonados e apresentam um comportamento dependente e submisso.

  • Perturbação Obsessivo-Compulsiva da Personalidade– preocupação excessiva com a ordem, o perfeccionismo e o controlo.

Os diagnósticos de Perturbação Evitante e Dependente da Personalidade devem ser dados com muita cautela em crianças e adolescentes, uma vez que os comportamentos tipicamente demonstrados nestes quadros podem ser considerados normais em algumas fases do desenvolvimento.

De acordo com o DSM-5, as Perturbações da Personalidade do cluster C são mais prevalentes (6%), seguidas do cluster A (5,7%), sendo as do cluster B as menos prevalentes (1.5%). A literatura reporta, ainda, que as Perturbações Borderline e Dependente são mais prevalentes no sexo feminino enquanto as Perturbações Antissocial, Esquizotípica, Esquizoide e Narcísica são mais prevalentes no sexo masculino.

A Perturbação Borderline da Personalidade é a que apresenta maior comorbilidade com outras Perturbações da Personalidade.

Mas então, se o diagnóstico de Perturbação da Personalidade consiste em características estáveis e inflexíveis, é possível ter resultados com a intervenção psicológica nestes casos? Sim!

Um processo de avaliação completo permite um diagnóstico correto de Perturbação da Personalidade que possibilita ao indivíduo receber o apoio de que necessita. A intervenção psicológica não se foca na eliminação ou mudança das características da pessoa, uma vez que estas são inflexíveis, mas sim na modelação da resposta emocional e comportamental às diversas situações. A terapia de grupo e a intervenção junto da família são também essenciais para um bom prognóstico e progresso da intervenção psicológica.

O diagnóstico será permanente, contudo, a pessoa e o grupo de suporte podem adquirir e desenvolver estratégias que diminuam o impacto deste no seu funcionamento e nas suas rotinas, melhorando a sua qualidade de vida e a dos que a rodeiam.

 
 

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