OS DESAFIOS DOS CANHOTOS: IDEIAS DE MATERIAIS E BRINCADEIRAS

Ana Raquel Múrias, Psicomotricista

Ser canhoto ainda pode ser um desafio no dia a dia, especialmente durante a infância. A maioria dos objetos, ferramentas e até mesmo as atividades escolares são pensadas para destros, o que pode gerar frustração, dificuldades e até uma falsa perceção de “descoordenação”.

Na verdade, as crianças canhotas apenas necessitam de adaptações simples que respeitem a sua lateralidade e lhes permitam explorar o mundo de forma confortável e eficiente.

Desafios comuns enfrentados pelos canhotos:

  • Materiais escolares inadequados: tesouras, afias, réguas e até cadernos de espiral podem atrapalhar o movimento natural da mão esquerda.

  • Caligrafia: a posição da mão pode levar a borrões, letras pouco legíveis ou posturas incorretas.

  • Jogos e atividades: alguns brinquedos e instrumentos musicais são projetados apenas para destros.

  • Adaptação social: a criança pode sentir-se “diferente” ou até corrigida de forma negativa, o que impacta na sua autoestima.

Materiais que fazem a diferença:

  • Tesouras para canhotos: com lâminas invertidas, facilitam o corte e evitam esforços desnecessários.

  • Cadernos e blocos adaptados: com margens no lado direito ou encadernação superior.

  • Lápis triangulares grossos: ajudam na pega correta e reduzem a fadiga.

  • Afias para canhotos: permitem rodar o lápis no sentido natural da mão esquerda.

  • Régua com numeração invertida: facilita a leitura de medidas.

Além dos materiais, algumas atividades podem ajudar a criança canhota a desenvolver mais confiança e destreza:

  • Atividades de desenho e pintura: incentivar o uso da mão preferida sem correção, oferecendo pincéis grossos ou lápis de cera fáceis de segurar.

  • Jogos de encaixe e construção: blocos, legos ou puzzles estimulam a coordenação visuomotora.

  • Circuitos motores: jogos de corda, bolas e percursos ajudam na consciência corporal e lateralidade.

  • Instrumentos musicais adaptados: como viola para canhotos ou percussões que não exigem orientação dominante.

  • Jogos de tabuleiro: favorecem a motricidade fina (lançar dados, mover peças) e podem ser ajustados sem grandes limitações.

A maior adaptação não está apenas nos objetos, mas na postura de aceitação. Permitir que a criança explore, descubra e se sinta confortável com sua mão dominante é o melhor apoio que podemos oferecer.

Porque não devemos contrariar a lateralidade?

Muitos adultos ainda têm a ideia de que ser canhoto é “errado” ou “mais difícil” e, por isso, incentivam (ou até obrigam) a criança a usar a mão direita. No entanto, forçar uma mudança de lateralidade é prejudicial e pode originar:

  • Dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita, devido à desorganização dos circuitos cerebrais ligados à linguagem e à motricidade.

  • Problemas de coordenação motora, uma vez que a mão escolhida não é a naturalmente dominante.

  • Confusões na orientação espacial, impactando tarefas do dia a dia e aprendizagens escolares.

  • Maior esforço e frustração, porque a criança sente que precisa “trabalhar a dobrar”.

  • Questões emocionais, como baixa autoestima e insegurança, por não ver respeitada a sua forma natural de agir.

 

Respeitar a lateralidade é respeitar a identidade da criança. Seja ela destra, canhota ou ambidestra, o importante é que tenha espaço para desenvolver as suas competências com conforto e confiança.

 
 

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