Ana Beatriz Rodrigues, Terapeuta Ocupacional

Nos últimos tempos, temos testemunhado uma mudança na forma como as crianças ocupam o seu tempo.

Estas são, a grande maioria das vezes, expostas a atividades estruturadas (aulas de música, desportos organizados, programas de enriquecimento académico) e várias vezes aos ecrãs (ver televisão, jogar videojogos, navegar na internet, etc.). As razões para essa mudança são variadas, nomeadamente, evolução tecnológica, pressão académica, urbanização das cidades e segurança.

No entanto, as consequências dessa reviravolta são preocupantes.

Sabe-se que os ambientes externos são ricos em estímulos sensoriais, pois fornecem uma variedade de inputs sensoriais (cores, texturas, cheiros, sons, estímulos visuais e de movimento), promovendo assim a integração sensorial e, consequentemente, o desenvolvimento saudável da criança.

Entende-se como integração sensorial o processo de receber, processar e responder às informações sensoriais externas. Já a regulação sensorial consiste na capacidade de manter um nível ótimo de atenção em resposta à entrada desse estímulo. Ambos são fulcrais ao desenvolvimento da criança.

É assim expectável que esta aprenda a processar uma grande variedade de informações sensoriais, criando as respostas adequadas às exigências do meio com a exploração do mundo ao seu redor. Para além de todas estas sensações, existem dois sistemas muito importantes ao desenvolvimento da criança, o sistema vestibular e propriocetivo.

O sistema vestibular permite que tenhamos noção de movimento e o sistema proprioceptivo controla os músculos e articulações evitando que o corpo se choque com algum objeto.

Quando a criança é exposta a ambientes mais sedentários não usufruem de atividades importantes a estes sistemas como correr, saltar, escalar, atividades de equilíbrio e consciência do corpo. Cada vez mais encontramos crianças com dificuldade no desenvolvimento sensorial e motor que podem trazer problemas adicionais, nomeadamente, dificuldade em enfrentar os desafios das suas atividades diárias, dificuldades na escola ou problemas de saúde mental.

Além disso, o facto de as crianças se movimentarem menos provoca o aumento da obesidade infantil que traz complicações físicas e emocionais. Infelizmente, hoje em dia muitas crianças estão a perder a oportunidade de experimentarem as diferentes sensações que o ar livre proporciona, no entanto, é importante que a família compreenda a importância destes ambientes para o desenvolvimento sensorial e cognitivo das crianças.

Não desvalorizando a tecnologia e as atividades estruturadas, estas têm também um lugar importante na vida das crianças, no entanto, é importante encontrar um equilíbrio de forma a desenvolverem de forma saudável.